O balanço das eleições aponta para uma clara vitória do PT e dos partidos da base governista, refletindo a situação de estabilidade capitalista e a popularidade dos governos Lula e Dilma.
O resultado de São Paulo é a mais importante expressão dessa vitória do PT. Trata-se da capital mais importante econômica e politicamente, e também da eleição mais nacionalizada. Serra foi a principal figura pública da direita desde a posse de Lula, e sua derrota-já aos 70 anos- provavelmente sepulta qualquer disputa majoritária de peso no futuro. Haddad foi uma aposta pessoal de Lula, que afastou autoritariamente Marta Suplicy (a candidata natural do partido), para lançar um quase desconhecido, repetindo o feito com Dilma. É uma categórica vitória do PT e derrota da oposição de direita.
No conjunto do estado de São Paulo, esse resultado se amplia. O PT conseguiu eleger prefeitos em S. Bernardo, S. André, Mauá, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos, indicando uma possibilidade importante de derrotar o PSDB na eleição de governo do estado em 2014.
No primeiro turno, o PT já tinha conseguido uma vitória aumentando seus votos de 16,6 milhões (2008) para 17,2 milhões de votos (foi o partido mais votado de todo o país), elegendo 5067 vereadores (4168 em 2008). Ampliou sua vitória com o segundo turno, elegendo 635 prefeitos (550 em 2008).
Existem capitais em que o PT foi derrotado, com votações muito pequenas, como P. Alegre, Belém, Rio de Janeiro. Em outras em que , mesmo bem votado , perde postos importantes no aparelho de estado como BH (e as cidades em torno). Mas como resultado global do país, é inegável a vitória petista.
Além disso, é importante também incorporar a vitória dos partidos da base governista. É assim com a eleição de Paes, do PMDB carioca, e também com Fortunatti e Fruet , do PDT de P. Alegre e Curitiba.
O PSB teve uma importante vitória mas, apesar de ser parte da base do governo Dilma, é um capítulo a parte porque está se movimentando em função da negociação de 2014. Teve 8,37 milhões de votos (5,6 milhões em 2008), elegendo 3484 vereadores (2956 em 2008). Com os resultados do segundo turno, elegeu 442 prefeituras (308 em 2008), incluindo três vitórias importantes contra o PT em BH, Recife e Fortaleza. Esse fortalecimento pode ser usado como parte da negociação com o PT nas eleições presidenciais, ou como parte da oposição de direita a depender da situação do país em 2014.
A derrota da oposição de direita é nacional. O PSDB caiu de 14,5 milhões (2008) para 9,5 milhões de votos no primeiro turno, elegendo 5146 vereadores (5897 em 2008) . Computando o segundo turno, elegeu 702 prefeitos (787 em 2008), com derrotas qualitativas como São Paulo. O DEM caiu de 9,4 milhões (2008) para 3,5 milhões de votos no primeiro turno, elegendo 3209 vereadores (4801 em 2008). Incluindo os resultados do segundo turno, elegeu 278 prefeitos (495 em 2008).
Evidentemente, a oposição de direita não está morta. Aécio se fortaleceu (no marco do enfraquecimento global da oposição de direita), e pode reocupar um espaço em 2014 a depender da evolução da economia e desgaste de Dilma. Mas é inegável a derrota nessas eleições.
O espaço de oposição de esquerda aumentou
Existiu um espaço de oposição de esquerda importante nessas eleições. Mesmo com a pressão do voto útil, existiu um voto à esquerda, que teve expressão em boa parte do país, em particular com o PSOL no primeiro turno: Edmilson (PSOL, Belém) com 32%; Freixo (PSOL, Rio) 28%; Clécio (PSOL, Macapá) 27, 8%; Elson (PSOL, Floripa) 14%; Renato Roseno (PSOL, Fortaleza) 11,8%; Vera (PSTU, Aracaju) 6,6%; BH (PSOL com 4,2% e Vanessa do PSTU com 1,5%). Outra coisa, muito diferente é a utilização em geral equivocada dada pelo PSOL a esse voto de esquerda.
Esse espaço a esquerda é um elemento novo na realidade nacional, que pôde ser sentido em todo o país, mesmo nos locais em que a pressão pelo voto útil reduziu significativamente a votação efetiva. Por exemplo, em São Paulo, em que os votos na oposição de esquerda foram poucos, pela pressão do voto “útil para derrotar Serra”, Haddad teve de girar sua campanha à esquerda para ocupar este espaço. Uma campanha que começou com o apoio de Maluf terminou com “uma candidatura de pobres e ricos contra a candidatura dos ricos (Serra)”.
Esse é um dos temas mais interessantes que surgem do balanço dessas eleições. Qual é a origem desse espaço eleitoral maior à esquerda? Como as eleições são reflexos distorcidos da realidade política, qual é a explicação para esse resultado? Será expressão do desgaste acumulado pelos dez anos de governo de frente popular? Um certo desencanto com os partidos majoritários, que também se expressou no aumento dos votos nulos e brancos? Um reflexo em uma fatia minoritária com a desaceleração econômica? Ou do ascenso sindical, com as lutas importantes que tem ocorrido? Ou ainda das denúncias do mensalão, que repercutem em um setor minoritário das massas? Outro elemento importante, que surge a partir daí é indicar sua dinâmica. Vai tender a se ampliar ou é mais conjuntural?
Se combinamos os dois elementos mais importantes desse balanço (a vitória petista e o aumento do espaço da oposição de esquerda), vemos uma votação mais a esquerda que a eleição passada, indicando mudanças na realidade política do país.
É importante localizar que essas mudanças se dão no marco da situação de estabilidade econômica e política. Ou seja, não houve uma mudança qualitativa da relação de forças entre as classes. Lembremos que o maior avanço na reorganização até o momento –a formação da CSP Conlutas- veio no marco da mesma situação de estabilidade combinada com um ascenso sindical.
Existe um certo desgaste do governo petista em alguns setores do movimento de massas depois de 10 anos de existência. Nessas eleições se expressou também certo desgaste do regime (desgaste, não crise), com uma ampliação da abstenção e dos votos nulos e brancos. Mesmo com toda polarização eleitoral, 25% dos eleitores deixou de votar em algum partido. Não se trata de um elemento de qualidade, mas de um crescimento quantitativo nesse sentido.
Vem aí ataques contra os trabalhadores
Os trabalhadores que votaram no PT pensavam estar votando em um aliado contra a direita. Sonham em melhores salários e empregos, além de continuar a ampliar seu consumo. No entanto, o governo Dilma responde às necessidades das grandes empresas multinacionais e nacionais instaladas no país.
Com os sinais dos reflexos da crise econômica internacional chegando ao Brasil, o governo Dilma está se preparando para lançar ataques contra os trabalhadores de peso. Um deles é a constituição dos ACEs, os Acordos Coletivos Especiais discutidos em outra parte desse número do Opinião Socialista.
Cada um dos votos dados aos candidatos do PT nessas eleições acabou por fortalecer o governo Dilma em seus projetos nacionais. A manobra das eleições burguesas pode se materializar nessa trágica ironia: com a vitória petista, o governo pode se sentir fortalecido para tentar impor os ACEs (clique aqui e entenda o que é o ACE).
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