Camaradas e amigos,
Recebi hoje um questionamento pertinente relacionado à nossa participação nas eleições deste ano: seriam Joseph Stalin, Fidel Castro e Che Guevara meus ídolos? Essa pergunta, embora compreensível no atual cenário político, revela um desconhecimento comum sobre as posições do PSTU.
Como militante trotskista e membro do PSTU, é crucial esclarecer nossa visão sobre essas figuras históricas e, mais importante, sobre o que realmente defendemos. A primeira coisa a dizer é: não tenho ídolos. Nossa luta visa à emancipação da classe trabalhadora, não à adoração de indivíduos. Permitam-me explicar nossa posição detalhadamente:
Minha referência política está no trotskismo. Leon Trotsky foi um revolucionário fundamental para o movimento operário internacional, sendo um dos principais líderes da Revolução Russa de 1917 e um incansável defensor da revolução permanente e do internacionalismo proletário. Ele se opôs firmemente ao stalinismo, denunciando a burocratização do Estado soviético e a degeneração da revolução sob o regime de Stalin, defendendo a democracia operária e a necessidade de uma revolução política para restaurar o poder aos trabalhadores.
Quanto a Che Guevara, respeito sua dedicação à causa revolucionária e seu compromisso internacionalista. Contudo, discordo da tática guerrilheirista que ele defendeu. O PSTU, seguindo a tradição trotskista e morenista (de Nahuel Moreno, um dos nossos principais teóricos), acredita que a revolução socialista deve ser obra da classe trabalhadora organizada, não de um pequeno grupo de guerrilheiros isolados das massas.
Em relação a Fidel Castro, é necessária uma análise crítica de seu papel histórico. Diferentemente de Che Guevara, Fidel seguiu uma trajetória mais complexa e contraditória. Iniciou sua carreira política como um nacionalista burguês, liderando o movimento que derrubou a ditadura de Batista em Cuba. As circunstâncias históricas, principalmente o conflito com o imperialismo norte-americano e a necessidade de apoio econômico e militar, o levaram a se alinhar com o chamado "campo socialista", liderado pela União Soviética.
Essa aliança, entretanto, não representou uma verdadeira revolução socialista liderada pela classe trabalhadora cubana. Resultou, ao contrário, na instauração de um regime burocrático inspirado no modelo stalinista que, apesar de algumas conquistas sociais, suprimiu as liberdades democráticas e a organização independente dos trabalhadores.
Fidel Castro, diferentemente de Che Guevara, não buscou estender a revolução internacionalmente de forma consequente. Seu foco foi consolidar o poder em Cuba, adaptando-se às exigências da burocracia soviética e, posteriormente, às pressões do mercado capitalista global.
É crucial, portanto, distinguir entre o caráter genuinamente revolucionário e internacionalista de figuras como Che Guevara (apesar de nossas divergências táticas) e o papel de Fidel Castro como um líder nacionalista que, pelas circunstâncias, adotou uma retórica "socialista", mas na prática construiu um regime burocrático distante do verdadeiro socialismo que defendemos - baseado na democracia operária e no poder dos trabalhadores.
Nossa estratégia se fundamenta na mobilização e organização independente da classe trabalhadora, na construção de um partido revolucionário enraizado nas lutas operárias e populares, e na defesa de um programa de transição que vincule as demandas imediatas dos trabalhadores à necessidade da revolução socialista.
Rejeitamos, portanto, tanto o stalinismo quanto o foquismo guerrilheirista guevarista como estratégias revolucionárias. Acreditamos que a libertação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores, através da luta de classes e da construção de organismos de poder operário e popular, como conselhos e comitês de fábrica.
Nossa referência é a IV Internacional, fundada por Trotsky, a qual buscamos reconstruir por meio da Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional (LIT-QI). Aplicamos e desenvolvemos o marxismo revolucionário nas condições atuais da luta de classes, sempre com uma perspectiva internacionalista e de independência de classe, lutando contra o capitalismo e todas as formas de opressão em escala global.
Adriano Espíndola
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